Jó 30
Almeida Revista e Corrigida 2009
Jó descreve o estado miserável em que caiu
30 Mas agora se riem de mim os de menos idade do que eu, e cujos pais eu teria desdenhado de pôr com os cães do meu rebanho. 2 De que também me serviria a força das suas mãos, força de homens cuja velhice esgotou-lhes o vigor? 3 De míngua e fome se debilitaram; e recolhiam-se para os lugares secos, tenebrosos, assolados e desertos. 4 Apanhavam malvas junto aos arbustos, e o seu mantimento eram raízes dos zimbros. 5 Do meio dos homens eram expulsos (gritava-se contra eles como contra um ladrão), 6 para habitarem nos barrancos dos vales e nas cavernas da terra e das rochas. 7 Bramavam entre os arbustos e ajuntavam-se debaixo das urtigas. 8 Eram filhos de doidos e filhos de gente sem nome e da terra eram expulsos.
9 Mas agora sou a sua canção e lhes sirvo de provérbio. 10 Abominam-me, e fogem para longe de mim, e no meu rosto não se privam de cuspir. 11 Porque Deus desatou a sua corda e me oprimiu; pelo que sacudiram de si o freio perante o meu rosto. 12 À direita se levantam os moços; empurram os meus pés e preparam contra mim os seus caminhos de destruição. 13 Desbaratam-me o meu caminho; promovem a minha miséria; uma gente que não tem nenhum ajudador. 14 Vêm contra mim como por uma grande brecha e revolvem-se entre a assolação. 15 Sobrevieram-me pavores; como vento perseguem a minha honra, e como nuvem passou a minha felicidade.
16 E agora derrama-se em mim a minha alma; os dias da aflição se apoderaram de mim. 17 De noite, se me traspassam os meus ossos, e o mal que me corrói não descansa. 18 Pela grande força do meu mal se demudou a minha veste, que, como a gola da minha túnica, me cinge. 19 Lançou-me na lama, e fiquei semelhante ao pó e à cinza. 20 Clamo a ti, mas tu não me respondes; estou em pé, mas para mim não atentas. 21 Tornaste-te cruel contra mim; com a força da tua mão resistes violentamente. 22 Levantas-me sobre o vento, fazes-me cavalgar sobre ele e derretes-me o ser. 23 Porque eu sei que me levarás à morte e à casa do ajuntamento destinada a todos os viventes.
24 Mas não estenderás a mão para um montão de terra, se houver clamor nele na sua desventura? 25 Porventura, não chorei sobre aquele que estava aflito, ou não se angustiou a minha alma pelo necessitado? 26 Todavia, aguardando eu o bem, eis que me veio o mal; e, esperando eu a luz, veio a escuridão. 27 O meu íntimo ferve e não está quieto; os dias da aflição me surpreenderam. 28 Denegrido ando, mas não do sol; levantando-me na congregação, clamo por socorro. 29 Irmão me fiz dos dragões, e companheiro dos avestruzes. 30 Enegreceu-se a minha pele sobre mim, e os meus ossos estão queimados do calor. 31 Pelo que se tornou a minha harpa em lamentação, e a minha flauta, em voz dos que choram.
Jó 30
Portuguese New Testament: Easy-to-Read Version
30 “Mas agora zombam de mim pessoas mais jovens do que eu;
cujos pais eu não teria sequer contratado
para ajudar os meus cães a cuidar dos meus rebanhos!
2 A força das suas mãos não tinha valor para mim,
pois eles não tinham força alguma.
3 Viviam na pobreza, mortos de fome,
comiam raízes numa terra desolada e deserta.
4 Apanhavam ervas do mato
e raízes secas para comer.
5 Eram expulsos da comunidade
e o povo gritava atrás deles, como se fossem ladrões.
6 Viviam nas margens dos rios secos,
nas cavernas e nos buracos no chão.
7 Rugiam no mato
e se juntavam debaixo dos arbustos.
8 Monte de inúteis, pessoas sem valor;
eram açoitados e obrigados a sair do país.
9 “Mas agora até os filhos deles
zombam de mim e fazem piadas contra mim.
10 Eles me detestam e se afastam de mim,
não param de cuspir na minha cara.
11 Deus tirou a corda do meu arco e me humilhou,
me deixou sem defesa,
eles fazem de mim tudo o que querem.
12 Eles se juntam para me atacar de todos os lados,
colocam armadilhas para me fazer cair
e procuram uma forma de me matar.
13 Eles arruinam a minha vida,
procuram me destruir,
e não tenho ninguém para me ajudar.
14 Avançam através de uma grande brecha,
lançando-se contra mim de forma violenta.
15 Eu tremo de medo.
A minha dignidade é levada pelo vento
e a minha prosperidade passa como uma nuvem.
16 “Agora estou quase morrendo,
dias de aflição se apoderaram de mim.
17 De noite os meus ossos doem,
e o meu sofrimento não para.
18 Deus me agarra pela roupa,
me pega pela gola da minha veste,
19 e me lança na lama;
sou só pó e cinza.
20 “Grito para que me ajude, ó Deus, mas não me responde;
me levanto do chão mas não me dá atenção.
21 O Senhor se tornou cruel comigo,
usa o seu poder para me fazer mal.
22 Com um forte vento, me levanta e me arrasta para longe;
e faz com que eu vire lodo no meio de uma tempestade.
23 Sei que me levará à morte,
ao lugar onde irão todos os que agora estão vivos.
24 “Com certeza ninguém ataca uma pessoa prestes a morrer,
alguém que sofre e grita por ajuda.
25 Por acaso não tenho chorado com aqueles que passavam por dificuldades?
Não tive compaixão do pobre?
26 Esperava o bem,
mas só veio o mal.
Esperava a luz,
mas tudo ficou escuro para mim.
27 O meu interior não para de estar agitado,
só me esperam dias de sofrimento.
28 Estou queimado, mas não pelo sol;
me levanto diante do povo e peço que me ajudem.
29 Me tornei irmão dos chacais,
amigo das corujas.
30 A minha pele escurece
e o meu corpo[a] queima de tanta febre.
31 A minha alegria se transformou em tristeza,
a minha felicidade, em choro.
Footnotes
- 30.30 o meu corpo ou “os meus ossos”.
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